Hoje não houve volta mas houve ....Voos

 

-Papá, já viste aquele pássaro ali no pinheiro ?

Olhei para o passarinho e percebi  logo tratar-se de um Cloreto de arco iris australiano.

Mas porque raio é que um Cloreto de arco iris australiano estaria na minha varanda, a cantar de felicidade num ramo de pinheiro ?

Rodei  46 graus para a esquerda.

A porta da gaiola estava aberta e tinha um slogan que dizia “ Liberdade”- juro que vi.

E o australiano cantava e cantava encantado com o fim de 360 dias de uma pena sem crime.

E eu, atrás da esquina da porta, olhando a Liberdade …suava.

“Se ele voa, vou ter problemas que nem imagino.”

O australiano não saía do ramo. Nem eu …da esquina da porta.

É totalmente impossível fazer o que quer que seja sem o encomendar a uma morte cheia de liberdade – pensei.

- O passarinho vai voltar- dizia o meu filho.

- Vai vai. Vai mas é voar para a morte – disse, já angustiado com a lembrança de um outro que me tinha feito um dab ()na persiana,  antes de ….voar.

Entretanto a Margarida chegou ao cenário.

- Eu já o observei, ele não vai voar.

Pois, digamos que o australiano, parece que a ouviu. E com muita graciosidade, própria dos inconscientes, mergulhou no vazio.

- Já foi.

A Margarida acalmou-me.

- Deixa. Ele não sabe voar. Nunca Soube.

- Então deve ser paraquedista!  Matou-se decerto –disse.

- Não, vamos lá abaixo buscar o suicida. Vais ver que está vivo.

Agora ia resgatar um suicida …pássaro.

Descemos, o dito estava no jardim, tinha descido quatro andares, não imagino como.

Mas estava…vivo.

Apanhei-o depois de umas peripécias que me obrigaram a comprar umas calças uma hora depois – boa desculpa ,

Na gaiola de novo, estranhei o comportamento do australiano.

Estava muito quieto e olhava para mim. Entendi-o. Foi muita emoção, para ambos.

Ainda não refeito, já estava no Continente a olhar para um bolo de aniversário.

Eu que detesto bolos e afins tinha que o comprar, porque assim manda a tradição quando alguém faz anos.

O “alguém “ é o Bernardo, que, quis o destino, nasceu 9 anos e um dia depois do irmão.

Momento chave, a Margarida, na altura do pagamento, numa ultrapassagem – bem intencionada mas mal feita –soltou o bolo para Liberdade.

E o dito voou, voou – voo lindo admito – e aterrou aos pés de alguém que disse:

- Deixe estar, é normal!

Fiquei a pensar. De onde será este ser. Não é normal os bolos voarem. Deverá ser um sítio interessante.

Confesso que fiquei irritado. A Margarida já tinha por duas vezes ter tentado pôr a voar dois telemóveis. Voaram, mas só uns míseros 3 metros.

Creio sinceramente que foi uma experiência um pouco dispendiosa, como comentei, com  calma na altura.

Desta vez só fui capaz de lhe dizer:

- Olha, não te esqueças de enviar também as velas!

 

 

 

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